10 de janeiro de 2015

Adopção - O lado menos cor-de-rosa



Este é um tema muito sensível. Mesmo para mim que o estou a escrever e estou habituada a lidar com o assunto, peço que me perdoem pela frontalidade e não me condenem pelos meus sentimentos.

Infelizmente (ou não), em Portugal o processo de adopção é muito burocrático. Mas já se perguntaram porque?!

É burocrático, moroso, doloroso e muitas outras coisas, mas necessário.



Tenho amigas que passaram pelo processo e o que mais me chocou foi o sofrimento que as crianças também passam quando já estão na parte de serem envolvidas no processo.

Mas como desde muito nova sempre fui a orfanatos e instituições de acolhimento conheci muitas histórias..

Já passou até na tv ( julgo que na SIC) há uns anos uma reportagem sobre a verdade da adopção.

Quando consultamos os questionários sobre as expectativas que tem sobre a criança a adoptar é unânime, querem bebés, caucasianos, sem deficiências e sem doenças.

Alguns ainda aceitam crianças em idade pré escolar mas a maioria seguem estes padrões.

Pois... mas caso não saibam a maioria das crianças em orfanatos e centros de acolhimento não são bebés mas sim crianças que já passaram os 7 anos, ou seja já são velhas para serem facilmente adoptadas.



Quando era adolescente tive um amigo num centro de acolhimento e ia visita-lo sempre que podia junto com uma rapariga que foi minha amiga naquele tempo também. 

Era tão doloroso. Por ele mas também por aqueles outros rapazes que estavam lá, só recebiam rapazes naquele centro em Campanhã no Porto, alguns eram mais novos do que eu, outros tinham a minha idade... eu devia ter uns 15/16 anos, ali ninguém falava de adopção ou famílias de acolhimento. Dali só haviam duas saídas, ou ficavam a trabalhar na instituição quando atingissem a maioridade ou arranjavam trabalho fora e ficavam por sua conta. Um dos monitores que nos recebia sempre tinha também ele estado em internato lá.

Eramos duas adolescentes, contávamos os trocos para ir da Maia para o Porto de autocarro e duvido que os nossos pais soubessem que íamos para aquele centro de acolhimento, íamos de mãos a abanar. A única coisa que tínhamos era vontade de visitar o nosso amigo e lhe fazer companhia. Sempre fomos super bem recebidas, apesar de sermos miúdas nunca nos negaram visitar o nosso amigo e os outros rapazes, sim, porque depois acabávamos por ter um grupo enorme de rapazes ao pé de nós e sabem o que sentia?! Sentia que eles tinham uma falta de carinho enorme.

Lembro-me de uma das visitas ter sido perto do Natal e de eles todos orgulhosos nos mostraram os trabalhos que fizeram para decorar o salão e à árvore de Natal. A árvore não tinha nenhum presente, mas nós éramos miúdas e também não tínhamos dinheiro para lhes dar.

Esse foi o meu primeiro contacto mais sério e constante com um centro de acolhimento.

Conheci muitos outros agora que se passaram 10 anos desde essa altura.

E também conheci os rejeitados, os que nunca foram adoptados e os que foram devolvidos. Sim, leram bem... devolvidos.

Parece que estou a falar de objectos não é? Acreditem que só de escrever estou com um nó na garganta.

O lado menos bonito da adopção e quando os pais se tornam incompatíveis com a criança. 
Os casos são tantos que vocês nem imaginam.

Acontece mais/menos assim, a família passou por todo o processo de adopção com todas aquelas burocracias e ficou declarado que estão aptos a adoptar uma criança. Deve ser uma alegria enorme para essa família saber que finalmente vão ter um filho ou que vão aumentar o nr de filhos... mas... as coisas não são tão cor de rosa como sonharam, a verdade é que uma criança que esteve num centro de acolhimento já trás uma grande bagagem, se foi ali parar não foi de certeza por terem uma vida fácil.

Apesar de precisarem de muito amor, há muita revolta e quanto mais perto estão da adolescência mais capacidade de gestão emocional precisa de ter a família. Pior ainda se a criança já passou por outras casas e não correu bem.

Não podem simplesmente esperar que aquela criança esqueça o passado e finja que nada aconteceu para apreciar as coisas que vocês lhes estão a dar.

Depois da incompatibilidade ou dos problemas que a criança tem/cria aumentarem, acontecem as devoluções e desistências de adopção.

Adoptar um bebé é diferente, mas sabem que tb há bebés devolvidos?!

Acreditem que a verdade por trás da adopção é muito dura.

Ser mãe e pai é um trabalho e um compromisso para a vida. Todos os pais e filhos tem desavenças e incompatibilidade de feitios. Estava bem lixada se a minha mãe me quisesse devolver de cada vez que discutíamos na minha difícil adolescência.

Se vão assumir um compromisso dessa dimensão tenham a noção das proporções dele. Tentem tornar-se primeiro família de acolhimento de algumas crianças e verem como vivem essa experiência, o que sentem, se seriam mesmo capazes de levar isso para a vida.

Nós fomos família de acolhimento de uma menina de 12 anos durante cerca de um ano. Essa história fica para um outro post. Mas não foi fácil.

O lição que tirei dessa experiência é que primeiro não seria capaz de adoptar uma criança. Sim leram bem, poderia acolher centenas se tivesse dinheiro, mas adoptar não. Tenho uma filha que foi gerada dentro de mim, a primeira pergunta que me faço é se amaria um filho adoptivo da mesma forma. A resposta é não. 
Atenção que não amar da mesma maneira não significa ausência de amor, mas hoje sei que não seria igual.

Não sei se vos choca ouvir isto de mim, mas estou a ser sincera. Se seria capaz de cuidar e amar outra criança? Claro que sim, mas nunca da mesma forma que amo a minha filha. E é aí mesmo que muitos pais se enganam a si mesmos a achar que seriam capazes de o fazer.



A menina que acolhi foi muito bem tratada ainda hoje em dia recebo elogios pela forma como a tratei e eu não a devolvi, isso NUNCA, aliás, tenho saudades dela e foi uma grande experiência para mim. Mas se foi fácil? Não, não foi.

Alguns de vocês devem saber que tenho o Anly comigo, sou também família de acolhimento dele. Se é fácil? Não, não é, mas eu sou a única esperança dele e farei o possível para lhe garantir um bom futuro.

Se pensarem adoptar tentem passar primeiro pela experiência de serem uma família temporária de acolhimento. Vão fazer uma criança feliz e vão aprender muito.

E incentivo a todos os casais que estejam a ler a sê-lo, podem receber crianças só ao fim de semana para elas não passarem esse tempo todo nos internatos.

Acreditem vão aprender tanto e vão ganhar tanto com isso.

Há uma associação chamada Mundos de Vida, podem ver também o facebook deles aqui. Podem consultar o site, além de crianças também existem idosos a precisar do vosso amor. 


Devem haver outras pelo país. Se vocês estiverem economicamente e emocionalmente estáveis não deixem de passar por essa fantástica experiência.



20 comentários:

  1. Sofia adorei este teu post. Parabens! Tambem estou de acordo contigo acho que deve se primeiro acolher a crianca" ser familia de acolhimento" e depois ver como as experiencias correm e se realmente a adopcao e algo para o casal. E de uma grande responsabilidade e nao se deve tomar decicao assim ligeira. Acho tao triste ainda devolverem as criancas, como se fossem objectos. :( Sinceramente nao sei se era capaz tambem de adoptar acho que sim mas nao posso dizer pois nunca fui familia de acolhimento a nao ser para animais que coitadinhos tambem merecem e se nao formos nos humanos a ajudar quando pudemos muitos ficam em jaulas e centros durante anos e anos sem serem adoptados e tambem ha os pequeninos que precisao de alguem que cuide deles a tempo inteiro enquanto sao muito bebes e nao sao adoptados. :( Bem mas isso e outro tema. Beijinho de Toronto
    claudiapersi.blogspot.ca

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  2. Grande parte dos casais q querem adoptar querem bebés, fazem certas exigências e esquecem-se de certas coisas.

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  3. Oi, tudo bem?
    Adoção é um tema bem difícil de comentar e mais difícil ainda é para a criança, né? Como você falou, as pessoas quando vão adotar querem bebês, as crianças maiores ficam de lado, o que é triste, mas não posso julgar quem adota :c Acho que eles acham que um bebê é mais fácil de cuidar, ou a mulher quer realmente ser mãe e por isso o bebê vai dar todas as experiências de mãe para ela, pelo menos quase todas. Mas não devem esquecer que as crianças maiores também precisam de uma família, né? Enfim, eu gostei muito do seu post, ele é bem diferente do que estou acostumada a ler e despertou em mim uma boa reflexão.

    Beijos :*
    Larissa - http://srtabookaholic.blogspot.com

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  4. Olá, tudo bem?
    Vim conhecer o seu blog e adorei!

    Já estou seguindo suas redes! Te espero lá no Breshopping!

    Parabéns pelo blog e muito sucesso!!

    bjOO

    Blog Breshopping da Dany
    SORTEIOS Blog Breshopping da Dany SORTEIOS
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  5. O tema da adoção é tocante , sem dúvida ! É necessário ter completa certeza ao fazê-lo, pois mais frustrante do que serem abandonados pelos pais é certamente serem " devolvidos " pela família de adoção. É triste *

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  6. Admiro a tua escrita, é tão verdadeira nota-se que o que dizes te sai do coração, coração esse que é enorme, és muito nova mas as tuas vivências são a tua maior bagagem.
    Tal como tu,(mesmo não sendo mãe) acho difiicil amar um filho adotado da mesma forma que um filho gerado...
    No entanto eu acho que até os pais tem um amor diferentes pelos filhos sendo eles todos gerados no mesmo ventre... E isso eu senti e continuo a sentir na pele desde sempre... E também o vejo em outras famílias, não quero dizer que não amem os filhos, mas fazem-no de forma diferente, ou seja, nota-se que amam mais a um do que ao outro...

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  7. Desde já os parabéns pelo post, gostei de ler e é um tema interessante, mas que sim gera imensa discusão. Estou de acordo que ser pai/mãe é um compromisso para a vida, embora não o seja, já cuidei dos meus irmãos, dá trabalho, mas pergunto: Na vida, o que não dá trabalho? Depois, eu não estou familiarizada com o processo de adopção, mas creio que hoje em dia é um caminho muito difícil, visto que as condições actualmente do nosso país não permitem, tem que se ter condições para ter uma família, mas fiquei chocada não foi pela idade das crianças, pois já conhecia essa realidade, eu fiquei chocada ao ler que devolviam crianças, como se não fossem nada e isso foi o que me revoltou! Se não têm condições porquê que adoptam? Se dói para essas crianças estarem sozinhas, sabendo que foram abandonadas, sabendo que não têm o mesmo que as outras crianças, dói ainda mais pensar que se tem alguém e depois descartarem-nas, revolta-me isso! Depois outra coisa que o nosso país mostra e que está totalmente errado é a diferença de classes, mas lá está, é um tema que gera outros assuntos.

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  8. Adorei este post,acho muito importante que se escreva mais sobre este tema, que se alerte as pessoas para esta realidade, pois as crianças não são bonecos nem animais doméstico, mesmo esses são abandonados...tenho a noção de tudo que foi escrito, nada disto foi propriamente uma novidade para mim. Não tenho filhos, perdi 6, não adotei, mas criei vários sobrinhos, o que me deixa muito feliz. São crescidos já. Em tudo isto o que mais me encanta é ter contribuído para a felicidade deles.

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  9. É um tema muito delicado mesmo. É verdade que nunca passei pela situação, mas acredito que seria capaz de amar um filho adoptado da mesma forma... assim como gosto mais de alguns amigos do que de pessoas da família (ser do mesmo sangue nem sempre significa ser mais próximo).

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  10. É verdade que nunca passei pela situação, mas acredito que seria capaz de amar um filho adoptado da mesma forma... assim como gosto mais de alguns amigos do que de pessoas da família (por vezes ser do mesmo sangue não significa ser mais próximo).

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  11. Infelizmente há pessoas que acham que mais vale as crianças não ter família do que as deixar ter uma vida com muito amor ou lado de casais, por exemplo, homossexuais. Não consigo perceber :(

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  12. Por enquanto não tenho filhos pois a vida não o tem permitido mas se pudesse adoptar não olharia para trás.

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  13. O teu texto realmente marcou-me, eu sempre pensei que gostaria de ter filhos e que se por algum motivo não conseguisse e tivesse possibilidades, gostaria de adotar, mas ao ler o post acho que não conseguia, pois percebi realmente que é complicado e como sei perfeitamente que não sou estável emocionalmente,acho que não ia conseguir...
    Mas só o futuro o dirá, talvez quando encontrar a pessoa certa para mim, um marido, talvez isso mude, e seguirei o teu conselho, primeiro família de acolhimento, só depois adoção.
    Já agora vou visitar o facebook que referiste e colocar gosto...
    Só espero que essas crianças encontrem uma verdadeira família... Beijinhos

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  14. em relação a adoção....eu acho que se pode amar uma criança da mesma maneira....o mal e que neste pais demoram no mínimo 5 a 7 anos ate estar o processo concluído

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  15. ha imensas crianças a precisarem de amor todas as crianças teem direito a ser amadas e a ter um lar

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  16. Família é aquela que escolhemos, sejam familiares ou até amigos. Por vezes a relação entre amigos chega a ter mais valor para uma pessoa do que os próprios laços de sangue. Sou a favor da adopção, porque todos devemos ser amados e ter amor para dar, seja a quem for.

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  17. Realmente é uma realidade bem triste. Tantos asais dispostos a amar um ser e não puder adotar. :(

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  18. é pena que exista crianças sem pais, sem familia e sem amor!

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  19. Um tema sempre muito difícil de uma realidade muito triste. Que pena me fazem essas crianças!!!

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  20. pena que os processos de adopção são tão difíceis, penso que se fosse mais fácil haveriam mais adopções.

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